Reputação ou Glória

TERRA ARIDIANA
PERIFERIA RIMWARD
12 MAIO 3027
14:00H

O Centurion CN9-A cambaleou. Não era o passo firme e imponente de um BattleMech de cinquenta toneladas, mas o tropeço agonizante de um gigante à beira do colapso. Kaelen, o mercenário, engoliu o cheiro de ozônio e suor rançoso que pairava na cabine. A tela tática era uma colcha de retalhos de avisos, o vermelho dominando.

A armadura do torso esquerdo já havia se desprendido minutos atrás. Mísseis inimigos—projéteis de um lançador SRM-6 —rasgaram o invólucro de aço e agora a estrutura interna estava à vista, uma teia de ligas frágeis.

O dano infligido àquele lado havia levado o sistema de estabilização do BattleMech a um esforço lancinante. Kaelen sentia o giroscópio lutando, uma vibração agônica que sacudia toda a cabine a cada passo irregular, forçando-o a se concentrar desesperadamente para manter a máquina ereta. A perna direita estava respondendo com lentidão perigosa, e os alarmes de temperatura internos piscavam sem cessar.

Então, a emboscada se revelou.

Sobre uma crista de cascalho, a lança pirata emergiu. Três alvos: dois BattleMechs leves e um veículo de combate flutuante que se movia com a agilidade traiçoeira de um fantasma no campo de batalha.

“Engajamento. Traseira! Eles estão flanqueando!”, gritou a voz estática do computador de bordo, repetindo a única ordem que Kaelen já havia decifrado. A blindagem traseira do Centurion CN9-A, já comprometida de lutas anteriores, não resistiria a esse tipo de ataque concentrado.

O veículo de combate flutuante inimigo, rápido demais para a máquina pesada de Kaelen, iniciou uma manobra para rodear o BattleMech. Kaelen lutou contra os controles de perna, o torso se movendo com dificuldade para encarar a ameaça. Seu Centurion, um brawler nato, era agora apenas um alvo lento no deserto.

Ele precisava de um acerto, agora, antes que os BattleMechs leves se unissem.

O último de seus lasers médios disparou, crepitando no ar seco, direcionado ao ágil veículo. A energia do feixe queimou a armadura leve. O laser grande Magna já havia sido destruído, restando apenas o canhão automático no braço direito, sua principal arma.

Os BattleMechs leves avançaram. Um Locust e um Panther dispararam projéteis. Mísseis traçaram arcos brilhantes no céu empoeirado, e Kaelen se encolheu, protegendo-se instintivamente contra a explosão iminente e a chuva de detritos. O impacto sacudiu o BattleMech.

O reator de fusão do Centurion rugiu, trabalhando em sobrecarga. As luzes de calor na cabine gritavam, pintando o console em um tom vermelho intenso. A temperatura interna subia rapidamente, ameaçando a consciência do MechWarrior. O computador de bordo tentou iniciar um procedimento de segurança para desligar a máquina. Kaelen anulou a ordem com um movimento instintivo, forçando o BattleMech a se manter ativo, aceitando o risco de ferimentos por calor.

Com a máquina fervendo e se movendo de forma instável, o contra-ataque era um tiro no escuro. Kaelen cerrou os dentes e apertou o gatilho, disparando a salva final de seu canhão automático.

Ele mirou na silhueta em movimento do Locust. Não podia torcer o torso, então moveu o Centurion inteiro.

O rugido do canhão tremeu a cabine, e o fogo balístico rasgou o invólucro do BattleMech leve. O Locust balançou, a armadura perfurada. Um clarão súbito e a máquina pirata desmoronou em uma nuvem de fumaça e destroços.

Um destruído. Dois BattleMechs inimigos restantes: o Panther e o veículo de combate flutuante.

A vida era barata no campo de batalha, mas Kaelen não permitiria que seu BattleMech se tornasse sucata hoje. A retirada forçada era agora a única estratégia. Kaelen empurrou os controles para frente, impulsionando os restos do Centurion CN9-A em direção à borda do confronto. A reputação de um mercenário era construída em torno da sobrevivência tanto quanto da glória. Ele lutaria para ver o próximo pagamento.

A vibração do giroscópio quase o cegou com náusea, mas Kaelen não podia parar. O Centurion CN9-A arrastava-se pesadamente sobre a superfície de cascalho, seu andar cambaleante. Cada passo era uma luta agonizante contra o desequilíbrio, um esforço desesperado do seu sistema de estabilização danificado que transmitia a Kaelen a sensação lancinante de que a qualquer momento a máquina poderia tombar.

Os piratas remanescentes não demonstraram hesitação.

O veículo de combate flutuante moveu-se em um arco largo, rápido e impiedoso. Ao mesmo tempo, o Panther PNT-9R, um BattleMech de trinta e cinco toneladas, avançou, um predador farejando o sangue. Kaelen tentou girar o torso para encarar a ameaça de frente, expondo o que restava de sua armadura frontal, mas a lentidão de sua máquina comprometia a manobra.

“A blindagem lateral traseira… em colapso,” sibilou o computador, confirmando o óbvio. Se o Panther o flanqueasse, a máquina estaria condenada.

Kaelen forçou os restos do Centurion para a frente.

O Panther disparou primeiro. Um pulso de energia, provavelmente de seu Canhão de Projeção de Partículas (PPC). O disparo rasgou a armadura frontal já enfraquecida no torso direito. Kaelen sentiu o impacto não como um choque mecânico, mas como uma onda de calor que invadiu o cockpit. O alarme de aquecimento uivava, subindo além do limite de tolerância, transformando a cabine em um forno sufocante. Kaelen estava sendo cozido por dentro, a temperatura interna ameaçando levar sua consciência ao limite da dor.

Ele mal conseguia distinguir o console através do vapor de seu próprio suor e do calor escaldante. A exaustão era um peso esmagador.

Mas a dor o manteve ligado à realidade.

O veículo de combate flutuante cometeu seu erro final. Vendo o BattleMech cambaleando, ele se moveu para trás, visando a seção traseira exposta para um golpe de misericórdia.

Kaelen, ignorando o BattleMech Panther que se preparava para outro ataque, concentrou-se no alvo mais frágil e mais próximo. Era hora de parar a perseguição, custasse o que custasse.

Com sua máquina quase em pane e sua visão turva, Kaelen descarregou o que restava de seu canhão automático remanescente. Ele não mirou no veículo de combate flutuante em si, mas na elevação de cascalho à sua frente.

O rugido da arma balística tremeu o BattleMech de Kaelen, e a rajada de projéteis rasgou o solo árido. O impacto levantou uma nuvem densa de detritos e cascalho. O veículo de combate flutuante, atingido pela explosão de sujeira e rochas, perdeu a estabilidade do hover, virou-se descontroladamente e colidiu de lado no solo, quebrando em silêncio.

O Panther, vendo dois companheiros destruídos em rápida sucessão, paralisou por um instante.

Era a chance de Kaelen.

Ele empurrou os controles do Centurion CN9-A em direção à névoa de poeira e fumaça remanescente, forçando o BattleMech a um ritmo instável. O Panther disparou, mas o tiro, talvez apressado ou hesitante, errou por metros.

O BattleMech aleijado do mercenário continuou a se arrastar para a frente, desaparecendo do campo de visão do pirata. Kaelen não ousou olhar para trás. Ele havia escolhido a fuga forçada. Ele se lembraria do rosto e do nome do piloto do Panther. A vida era barata, mas Kaelen tinha um contrato e um BattleMech, por mais danificado que estivesse, que precisava de reparos.

A Reputação dependia da sobrevivência. Ele seguiria em frente, manchado de glória e suor, para o próximo Drop Zone…

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